quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Meus Primeiros Quinze Anos: Coisas Proibidas

  Sempre fui tímida Eu era tão timida que vivia gargalhando alto, usando roupas espalhafatosas. Tudo era fingimento, maneira de tentar esconder a minha verdadeira personalidade.
  Meu nome, Vanessa, eu achava horrível, Talvez, até porque não era nenhum nome de flor. Eu queria me mostrar, não tinha coragem, então me camuflava.
  Um dia, vi um anúncio num jornal que falava de um concurso de poesia.
   Fiquei toda misturada de idéias, pensava e não pensava naquilo, e comecei a sonhar, queria ser igual à Raquel de Queiroz. que tinha escrito um romance chamado O Quinze. Eu ficava imitando a Raquel, seus óculos, o cabelo. Mas o danado do meu cabelo era crespo e a Raquel tinha um jeito comportado, cabelos lisos, rosto sereno.
   Minha mãe vivia dizendo:
__ Fulana tem um ar tão bonito, ela é serena, educada, tranquila...
   Lógico que era indireta para mim! Minha timidez fingida era supernervosa.
   Certa noite, levantei de madrugada. Era uma noitemadruguenta, dessas sem ponteiro, nem hora, coisa de insônia.
   Adoro (até hoje) ter insônia Sou dorminhoca. As insônias são mais plenas de sonhos do que as coisas sonhadas dormindo. Se você não acha, eu acho. O Blog sou eu disfarçada. Peço desculpas, mas eu acho.
   Levantei, zanzei, fui roubar um pedaço de pudim na geladeira. Havia um pudim onde faltava umas duas fatias. Mamãe dissera que ia guardar , porque, no dia seguinte, viria uma visita. Ela serviria pudim já fatiado, nos pratos. Pudim inteiro era mais chique, mas já faltavam duas fatias naquele.
   Daí, cortei uma fatia pequena e comi.
   Ai, que pudim gostoso! Era daqueles simples, de leite. com cobertura de caramelo...
   Eu pensava e repensava, queria escrever algo para o tal concurso de poesias.
   O pudim, na geladeira, foi crescendo em saudade na minha boca e parecia me chamar:
 __ Vanessa! Vanessa!
   Eu resistia, agarrada num lápis, rabiscando um início de poesia doida, num velho caderno de matemática.
 __ Vanessa! Vanessa! __ chamava o pudim, dentro da minha gula.
     Não resisti: voltei à geladeira, cortei mais um pedacinho. O pudim tinha gosto das coisas proibidas.
     Retornei à poesia, colocando o título:
         Coisas Proibidas 


Teu beijo talvez
tenha um gosto de pudim.
Será assim?
      

Nenhum comentário:

Postar um comentário